4.5
Relato do projeto
A
literatura, ao reunir a magia das palavras, educa e desenvolve a sensibilidade
na criança, enriquecendo suas experiências pessoais, familiares, escolares e de
cidadania. O ideal é fazer com que as crianças unam o entretenimento e a
instrução ao prazer da leitura. O pano de fundo do estudo é a noção segundo a
qual a narrativa dos Contos de Fadas têm
elementos básicos que podem contribuir para despertar o gosto pela leitura.
A
partir do momento em que compreendemos o homem na sua totalidade, devemos avaliar qual é a visão de mundo, a
concepção de homem e o método de abrangência
da realidade propostas nos Contos de Fadas. A intenção é mais do que intelectualizar, implica também naquilo que
está sendo dito pelo texto e subtexto e nas emoções sentidas enquanto narrador.
Os Contos de Fadas não podem faltar na
Educação Infantil, a fantasia ajuda a
formar a personalidade e além de aumentar o repertório de conhecimento da
criança, possibilita a transferência de
seus dramas para os personagens. Na verdade, as histórias dos Contos de Fadas referendam em alguns
momentos os problemas interiores dos seres humanos e funcionam como válvulas de escape,
permitindo que a criança vivencie seus problemas psicológicos de modo
simbólico, com grandes possibilidades de sair mais feliz dessa
experiência.
O
Projeto busca refletir: quem são essas crianças pequenas que chegam aos espaços educativos? Que sonhos
trazem? Quantos desejos, certezas e incertezas?
Quantas dúvidas, expectativas, curiosidades e medos? Quantas crenças? Que conhecimentos possuem? São
crianças com diferentes histórias, motivações e necessidades. Algumas têm um pai e uma mãe como modelos, outras
também têm, mas que não devia ser modelo
e, tem aqueles que não têm pai, enfim são histórias e histórias... como as de Joãozinho que mesmo antes de conhecer a escola
já sabia muitas coisas, na companhia do
pai já havia explorado muitos ambientes, como o campinho de futebol, uma
pescaria, o parque do lago, o passeio de
bicicleta, o zoológico, o supermercado, a lanchonete, isto sem falar da chácara
do vovô com aquele pomar, o riozinho, a lavoura, o trator, os bichos, as flores, as borboletas, os pássaros com seus
ninhos... Em casa, aprendia a ler os olhos, as palavras, os movimentos e trejeitos
da mãe, sabia quando havia feito alguma “estripulia”
pelo olhar e tom da voz dos pais, lia
sons e ruídos que lhe despertavam a curiosidade, lia a sombra do seu
corpo, media o seu tamanho pela sombra do pai, e o mais importante, já sabia também o que era
escola por meio das narrativas da mãe “lugar em que devemos obedecer a professora, prestar
atenção para aprender a ler, escrever e fazer
contas de cabeça, lugar de disciplina, ordem e estudo”. De algum modo,
Joãozinho entendia que aquele espaço
faria diferença na sua vida e o levaria para novos caminhos.
A
linguagem escrita já faz parte do mundo de Joãozinho, a qual visualiza em muitos lugares, nas placas e outdoors das
ruas, na TV, nas caixas dos brinquedos, nos rótulos dos produtos de
alimentação, de higiene, nos livros, nos cadernos, nas revistas, panfletos, jornais, etc. A partir daí é possível perceber que Joãozinho
e as demais crianças pequenas chegam aos
espaços educativos com a linguagem oral muito desenvolvida. Os conhecimentos e
as experiências vividas no meio familiar e social são ricas e o docente de
Educação Infantil precisa levá-los em consideração. Além da valorização daquilo
que o aluno já sabe, é importante que o docente tenha conhecimento das fases de
desenvolvimento da criança.
No
entanto, apesar da prontidão cognitiva, da expectativa e da curiosidade latente nas crianças com menos de seis anos,
ainda está presente, às vezes de forma velada,
a concepção tradicional da leitura na Educação Infantil, a qual é confundida
com o simples deciframento de signos
gráficos. Infelizmente, é dada extrema importância para a formação da criança
leitora e a decodificação de palavras assume papel de destaque, queimando uma etapa importante do
desenvolvimento infantil.
Nesta
fase, o docente deverá primar por
atividades lúdicas, por meio da fantasia
e do encantamento presente ricamente na
literatura infantil. Aqui vale lembrar a
importância da leitura de imagens, as quais devem preceder o deciframento das
palavras. Ao reconhecer uma imagem o pequeno leitor experimenta um contentamento por reencontrar uma experiência já vivenciada.
A leitura é uma porta de entrada que estimula
a imaginação, em que a criança cria seus
roteiros, suas cenas e histórias; podendo suscitar muitos questionamentos e despertar o interesse por
novas leituras. Com estímulo, dá asas à imaginação,
ampliando sua consciência e desenvolvendo a linguagem oral de forma prazerosa. Assim, terá uma compreensão de seu
universo, de si mesmo e do meio em que vive, auxiliando a se situar no tempo e
no espaço. Podemos chamar essa fase de “alfabetização visual”, na qual é
possível trabalhar diversas características de objetos, inclusive de livros de
literatura infantil, como por exemplo: o tamanho do livro, a grossura, o peso,
a ilustração da capa, a beleza das figuras, das letras, dos espaços, das cores,
da textura, da diagramação das páginas.
A percepção visual que a criança tem da imagem torna-a capaz de atribuir qualidades aos
objetos, reconhecendo-os e identificando-os.
As
ilustrações dos livros dos Contos de Fadas como “obras de arte” são
responsáveis pelo fato desta literatura permanecer atual até os nossos dias. Os
contos em si, com suas abordagens de significativos arquétipos (modelo, padrão)
do homem – a memória coletiva de todas
as pessoas tem seu valor literário. Mas
como obras de arte estão as ilustrações,
nas quais o ilustrador deve evitar o conflito entre o que o leitor imagina e o que vê; saber discernir a cena e o
momento a ser ilustrada é fundamental para
emocionar e envolver a criança.
O
docente da Educação Infantil enquanto mediador da aprendizagem deve ser criativo e capaz de trabalhar as artes, as
brincadeiras, as histórias, as dramatizações, os bonecos de fantoches, as musiquinhas, os
versinhos, os trava-língua e muitos outros recursos como estratégias para despertar o
interesse da criança para a leitura e escrita.
A
linguagem apresenta-se como mediadora entre a criança e o meio em que vive, como uma ponte que poderá auxiliá-la na
conquista do mundo a sua volta, é ilimitada e não tem fronteiras, desvela o
maravilhoso, o criativo e o imaginário, em vista disso, a avaliação não pode ter critérios
rígidos, pois qualquer critério não dá conta em explicar toda a extensão e riqueza da
linguagem oral.
O
embasamento teórico metodológico é o do materialismo histórico e dialético, no qual o maior desafio do
professor é fazer com que a criança aprenda por meio de experiências e fatos da sociedade à
qual está inserida, seja nos contextos imaginário
ou real do seu cotidiano.
Uma
obra é considerada clássica e referência em qualquer época quando desperta as principais emoções humanas. Os
dramas existenciais como “separação entre crianças e pais” aparece em Rapunzel e o
Patinho Feio, “o medo da rejeição” em
João e Maria e “a rivalidade entre
irmãos” em Cinderela.
Uma
proposta nesta perspectiva e um fazer pedagógico dessa natureza certamente contribuirá na formação de melhores
leitores e apreciadores das artes plásticas,
do cinema, do teatro, bem como de cidadãos mais críticos e participativos do universo que o cerca.
Optou-se
como viés deste estudo pesquisar os “Irmãos Grimm” que viveram no século XVIII, na Alemanha. Os irmãos Jacob
e Willem dedicaram-se aos estudos de história
e linguística, recolhendo diretamente da memória popular germânica as antigas
narrativas, lendas ou sagas germânicas, conservadas pela tradição oral. Os dois
irmãos, na idade de 30 anos, já haviam
conseguido uma posição de destaque por suas numerosas publicações que contribuíram
grandemente para a popularidade dos Contos de Fadas.
Propõe-se
o estudo dos Contos de Fadas provenientes do repertório europeu por uma questão de escolha coerente,
pois a maioria deles é de autoria dos Irmãos
Grimm, que souberam transcrever com sobriedade os contos populares do seu tempo, o que permite hoje ter acesso a uma
legítima e autêntica coletânea.
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